O Ministério da Saúde anunciou ontem (20/5) mudanças no protocolo para o tratamento precoce da Covid-19. A partir de agora, os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina serão utilizados desde o início dos sintomas da doença. Essa vinha sendo a intenção do presidente da República, Jair Bolsonaro, desde quando o Ministério ainda estava sob comando do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Na semana passada, por discordar do uso desses medicamentos no estágio inicial da doença, o agora também ex-ministro Nelson Teich pediu demissão.
O documento divulgado ontem traz a classificação dos sinais e sintomas da doença, que pode variar de leve a grave; e a orientação para prescrição a pacientes adultos de dois medicamentos associados à azitromicina: a cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina. A escolha do melhor tratamento para a doença pode variar de acordo com os sinais e sintomas e a fase em que o paciente se encontra. Esses dois medicamentos já eram indicados para casos graves, hospitalizados.
Paciente tem que assinar termo
Segundo o Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o acesso a esses medicamentos somente é possível por meio de prescrição médica. É de competência do médico, em concordância declarada por escrito pelo paciente, o uso do tratamento medicamentoso. O ministério elaborou ainda um Termo de Ciência e Consentimento para uso de Hidroxicloroquina/Cloroquina.
Na rede privada, vale lembrar que, no fim de março, devido à corrida às farmácias para compra desses medicamentos logo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump citá-los, a Anvisa endureceu o acesso a eles, que agora somente são dispensados nas farmácias com retenção de receita.
Para ampliar a recomendação para o uso precoce da doença, o Ministério da Saúde levou em consideração a existência de diversos estudos sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.
Medicamentos dessa classe terapêutica já são disponibilizados no SUS para tratamentos de outras doenças, como a malária, lúpus e artrite reumatoide. O Ministério da Saúde esclarece que, até o momento, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus.
Faltam evidências e há risco de arritmia cardíaca
Apesar de ontem o Ministério da Saúde ter dito que levou em consideração a existência de diversos estudos sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, nem sempre foi assim. Nas últimas semanas, muito se falou sobre a falta de evidências científicas em todo o mundo sobre a eficácia desses medicamentos no combate à doença.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse ontem que a cloroquina e hidroxicloroquina podem elevar o risco de arritmia cardíaca em idosos e de outras complicações no quadro de saúde.
Em abril, um estudo brasileiro com esses medicamentos, em Manaus, foi interrompido depois que 11 pessoas infectadas com o novo coronavírus morreram devido às altas dosagens de cloroquina (600mg duas vezes ao dia por 10 dias, uma dose total de 12g) ou uma dose baixa de 450mg por cinco dias (duas vezes somente no primeiro dia, uma dose total de 2,7g). Um dos erros da pesquisa foi não ter utilizado placebo para estabelecer comparações.
O tratamento com esses medicamentos é considerado off label, ou seja, não segue indicações já homologadas. Costuma ser indicado quando alternativas tradicionais estão falhando ou quando o médico avalia que pode ser útil. Portanto, os testes estão sendo feitos diretamente nos pacientes.
Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) propôs que os médicos considerassem a prescrição da cloroquina e hidroxicloroquina, em condições excepcionais, a partir do consentimento do paciente para tratamento da Covid-19.
Leia aqui: CFM condiciona uso de cloroquina e hidroxicloroquina a critério médico e consentimento do paciente
De acordo com a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, as orientações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde garantem o princípio da equidade defendido pelo SUS como uma realidade a todos os brasileiros, independentemente de classe social. “Estamos respeitando o direito que os profissionais médicos têm de prescrever a seus pacientes o que já é prescrito nos serviços privados do país”, afirmou.