A recente publicação do plano de vacinação para Covid-19 pelo Ministério da Saúde e a proximidade da autorização da primeira vacina de uso emergencial pela Anvisa estão fazendo com que o setor de saúde precise se organizar para participar da campanha e iniciar a vacinação em massa da população.
O setor de farmácia, por exemplo, deu o primeiro passo essa semana, quando a Abrafarma entregou ao governo federal e aos estaduais um projeto que disponibiliza 4.573 farmácias associadas com salas de serviços farmacêuticos para a realização do serviço.
Ainda assim, o desafio de imunizar um grande número de pessoas exigirá esforços de todas as partes. Outras redes de farmácias e estabelecimentos independentes precisarão se envolver na ação. Resta saber se esses locais estão prontos para participar.
Farmácias capacitadas no Rio de Janeiro
No estado do Rio de Janeiro, a Ascoferj também já sinalizou um possível envolvimento de farmácias e drogarias associadas na imunização contra o novo coronavírus. São mais de 1,5 mil estabelecimentos associados, mas, segundo o presidente da entidade, Luis Marins, cada empresa terá a liberdade de escolher se quer ou não fazer alguma parceria com o governo.
“Nós vamos apoiar toda e qualquer iniciativa nesse sentido. Inclusive, temos serviços e treinamentos que podem servir de apoio para a farmácia que ainda não tem a sala farmacêutica, mas quer se preparar”, diz Marins. O Departamento de Assuntos Regulatórios pode dar todo o suporte na regularização da documentação juntos aos órgãos reguladores, por exemplo.
Na visão de Maurício Matos, gestor da rede A Nossa Drogaria, as farmácias estão sim capacitadas para vacinar contra a Covid-19: “Esse ano, nossas lojas participaram de campanhas de vacinação contra gripe e sarampo em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS/RJ). Além de nós, outras redes marcaram presença em ambas as ações. Com certeza, podemos fazer o mesmo com a Covid-19”.
Victor Pádua, proprietário da Drogaria Búzios, afirma estar pronto para receber a campanha: “Além da maior visibilidade para a nossa loja, queremos contribuir e deixar um legado para a cidade, trazendo um novo perfil de drogaria e levando uma boa atenção farmacêutica à população. Para isso, temos dois farmacêuticos com cursos de habilitação e treinamentos para isso”.
Dificuldades poderão surgir
Outra farmácia que participou das campanhas de vacinação em parceria com a SMS/RJ foi a Farmácia do Leme, independente localizada no bairro de Copacabana. O proprietário, Ricardo Valdetaro, também acredita ser possível participar da ação contra Covid-19, mas está um pouco receoso em relação à logística.
“Como somos uma loja única, me preocupo se a vacinação acontecerá por agendamento de horário ou se será por ordem de chegada. É importante evitar aglomeração dentro e no entorno de um espaço pequeno, ainda mais em um bairro que tem muitos moradores”, revela Ricardo.
Além disso, a quantidade de profissionais atuantes na campanha pode vir a ser um problema. Priscila Macedo, proprietária da Droga Mais de Valença, explica: “Eu sou a farmacêutica da loja e tenho habilitação para aplicar vacina. Lá também estão profissionais com habilitação para injetáveis, mas, por lei, apenas os farmacêuticos podem vacinar. É importante que se abra uma exceção e esses outros colaboradores sejam envolvidos”.
Parceria com Ministério da Saúde
Um consenso entre todos é que a vacinação se tornaria mais fácil e atingiria uma parcela maior da população caso fosse realizada por meio de uma parceria com o Ministério da Saúde. Dessa forma, o governo federal forneceria todos os insumos e materiais necessários para as farmácias, que ficariam responsáveis apenas pela atividade. E essa já é a proposta da Abrafarma enviada ao governo esta semana.
“Pelo fato de termos tido uma parceria nesses termos a nível municipal, quando até mesmo o deslocamento dos imunizantes dos postos de saúde até as farmácias foi feito pela Secretaria de Saúde, sabemos que pode dar certo também na situação atual”, analisa Maurício Matos.
O proprietário da Farmácia do Leme acredita que o apoio do governo poderia ajudar no problema de serem poucos farmacêuticos disponíveis: “Acho necessário o governo federal ou estadual oferecer profissionais para nos ajudar a aumentar o volume de vacinação, podendo até mesmo ser enfermeiros. Não há farmacêuticos o suficiente em nenhum lugar do Brasil para o número de pessoas que procurará o serviço”.
Outro ponto positivo dessa cooperação seria o custo zero para os clientes, já que as farmácias não teriam gastos. “É difícil dizer por ser tudo ainda muito novo e não termos referência de preços da vacina, mas, caso não haja ajuda do governo e dada a gravidade da pandemia, penso que o valor seria simbólico, com base no que já é cobrado na aplicação de outros tipos de imunizantes”, informa Victor Pádua.
Capacidade de atendimento
A Nossa Drogaria possui cerca de 35 unidades com salas de serviços farmacêuticos em todo o estado do Rio de Janeiro. Segundo Maurício Matos, todas elas juntas seriam capazes de vacinar mais de 400 pessoas por dia. As farmácias independentes acreditam conseguir vacinar uma média de 120 a 200 pessoas a cada dia da campanha.
O fato é que as farmácias, por sua capilaridade em todo o território nacional, são peças fundamentais na imunização contra a doença que está causando uma das piores pandemias que o mundo já enfrentou. As dificuldades poderão ser superadas quando houver uma oficialização de quais vacinas serão utilizadas e saber como funcionará, na prática, a campanha.
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Fonte: site Ascoferj