O Valor Econômico noticiou hoje que a venda de medicamentos que prometiam combater a Covid-19 ajudou a aumentar os negócios das farmacêuticas nacionais de porte médio em 2020. O vermífugo ivermectina, por exemplo, teve uma alta de 829% no ano passado, chegando a R$ 409 milhões em receita, enquanto a cloroquina e hidroxicloroquina, indicados para malária e lúpus, saltaram de R$ 55 milhões para R$ 91,6 milhões segundo levantamento do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).
Crescimento das vendas
Os medicamentos foram apelidados de “kit Covid” e ganharam projeção no início da pandemia com a promessa de que ajudariam na prevenção da doença, mesmo sem terem a eficácia comprovada por autoridades sanitárias. Contudo, quase um ano depois, as vendas continuam em alta.
A ivermectina, que não necessita de receita médica para ser vendida, foi mais procurada nos meses de julho e dezembro do ano passado – atingiu R$ 98 milhões e R$ 107 milhões em receita respectivamente. Em unidades, chegou a 52,3 milhões de caixas durante todo o ano, o equivalente a um crescimento de 539% sobre 2019. Já a cloroquina e a hidroxicloroquina, que exigem retenção de receita, chegaram a 2,02 milhões de caixas, um aumento de 110%.
Laboratórios se destacam
De acordo com a apuração do Valor Econômico, os laboratórios Vitamedic, do grupo José Alves, e Apsen foram os campeões de vendas desses medicamentos em 2020.
O primeiro respondeu por aproximadamente 80% das unidades de ivermectina em 2020, inclusive chegando a fazer ajustes na linha de produção e comprando novos equipamentos pela alta demanda. Dados da consultoria IQVIA obtidos pela reportagem mostram que a receita total da empresa aumentou 202,9% no ano passado, saltando para R$ 421,7 milhões.
A farmacêutica Apsen foi responsável por produzir 85% do total vendido de cloroquina e hidroxicloroquina, subindo 17,6% da receita, o equivalente a R$ 1,034 bilhão.
Além da Vitamedic, outras sete companhias fabricam ivermectina: Abbott, Biolab, Cifarma, EMS, Galderma, Neo Química e UCI Farma. No caso das outras duas substâncias, além da Apsen, a EMS e a Sanofi também são fabricantes.
Demanda poderá diminuir
A expectativa do mercado farmacêutico é de que as vendas desses produtos caiam nos próximos meses conforme a vacinação avance no país. Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma, alerta que a compra de medicamentos não deve ser feita sem orientação médica.
“A indústria farmacêutica investe bilhões de dólares para demonstrar a eficácia dos produtos. O uso ‘off-label’ não é proibido, mas tem de ter prescrição médica. O que se espera das autoridades é que olhem com atenção esse movimento”.
Paulo Latufo, epidemiologista e diretor do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universário da USP, complementa: “Argumentações de que o uso desses medicamentos traz benefícios no tratamento da Covid-19 não fazem sentido. A ivermectina é usada por pouco tempo nos tratamentos para os quais é indicada pela bula do medicamento. Então, não sabemos o nível de toxicidade que o paciente pode ser exposto”.
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