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Logística reversa de medicamentos: a experiência das redes Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo

DPSP fala sobre logística reversa em suas lojas

Foto: Divulgação

Há cinco anos, as redes Drogaria Pacheco e Drogaria São Paulo, do Grupo DPSP, promovem, por iniciativa própria, a logística reversa de medicamentos vencidos ou em desuso. As duas redes – que juntas somam mais de 1,3 mil pontos de venda em todo o Brasil – são responsáveis por coletar e encaminhar cerca de 3 toneladas de produtos para o descarte correto. A experiência antecipada levou o grupo a ser um dos primeiros a fazer parte do acordo setorial – varejo, distribuição e indústria – preconizado pelo Decreto Federal 10.388/2020, que regulamenta a logística reversa de medicamentos no Brasil. Nesta entrevista exclusiva ao portal, o gerente de Projetos de Logística do Grupo DPSP, Diego Senechal, compartilha a experiência das duas redes antes e depois do decreto federal, destacando os pontos que ainda merecem atenção.

RF: Que fatores motivam o grupo DPSP a promover a logística reversa de medicamentos?

Diego Senechal: O processo de logística reversa tem total sinergia com os valores da companhia em prol da sustentabilidade, saúde e bem-estar, além de despertar a importância do cuidado com o meio ambiente nos nossos clientes, que passam a enxergar as nossas marcas como parceiros de valor para depositar os seus resíduos de medicamentos. Esta iniciativa representa muito para nós, pois só assim, com cada um fazendo a sua parte, é que poderemos caminhar para um futuro mais sustentável.

RF: O Grupo DPSP iniciou a coleta de medicamentos vencidos e em desuso antes mesmo do Decreto Federal 10.388, que entrou em vigor no dia 28/09/2021, estando, dessa forma, entre os pioneiros a fazer a coleta seletiva. Como tem sido a experiência das duas redes com a logística reversa?

DS: Há mais de cinco anos, aqui no Grupo DPSP, temos o compromisso de promover e viabilizar o descarte consciente de medicamentos em desuso e pilhas como forma de minimizar os riscos ambientais e assim promover o propósito da nossa companhia: ser a referência em saúde e bem-estar. Até o final de 2020, 2/3 das nossas lojas estavam credenciadas para receber medicamentos em desuso e pilhas. A partir do primeiro trimestre de 2021, habilitamos o processo em 95% das lojas do grupo, antes mesmo de a legislação entrar em vigor, e tivemos resultados surpreendentes, que demonstraram o quanto a população está engajada em causas ambientais.

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RF: Como funciona o recolhimento na prática?

DS: A cadeia de recolhimento é bastante simples. Após o cliente depositar o medicamento em desuso nos dispensers espalhados no ponto de venda, os produtos são encaminhados aos nossos centros de distribuição de forma segregada, isto é, sem contato com nenhum outro tipo de produto. Ao chegar no centro de distribuição, a triagem dos volumes acontece sem a necessidade de manuseio das unidades dentro dos sacos lacrados. A consolidação é feita em contentores de diferentes cores, de acordo com o status “recebido da loja” ou “pronto para descarte”.

A cada 7, 14 ou 30 dias, dependendo do volume centralizado em cada CD consolidador de medicamentos em desuso, uma empresa homologada executa a coleta e leva os produtos para fazer a incineração dos medicamentos e, em alguns casos, o coprocessamento das embalagens, que além de reduzir o custo da destinação, permite menor impacto ao meio ambiente.

No Estado de São Paulo, devido ao acordo feito com a CETESB, o processo de recolhimento sob responsabilidade da indústria já começou. No nosso caso, como tínhamos iniciado o procedimento antecipadamente à legislação, a única diferença no processo agora está relacionada à empresa que faz a coleta e a comunicação das informações, pois, de acordo com a legislação, é necessário apontar a coleta especificamente em cada ponto de venda.

Uma nova fase está por vir, e chegará agora em setembro, quando todo o Brasil entrará no modelo iniciado no Estado de São Paulo. Será um marco importante para o nosso País no quesito meio ambiente.

RF: Quais foram os desafios para atender ao Decreto Federal 10.338?

DS: O projeto piloto que está sendo feito em São Paulo nos ajuda a entender alguns processos e detalhes que, às vezes, não são percebidos quando a lei é desenhada. Nosso entendimento é que a nova legislação promoverá uma melhora no serviço de descarte de medicamentos no âmbito federal. Entretanto, nós identificamos alguns desafios e pontos de melhoria. Posso citar dois exemplos: primeiro, o sistema utilizado atualmente não diferencia as grandes redes de uma drogaria independente. Na prática, esses dois grupos são idênticos sob o ponto de vista do cliente, porém as grandes redes possuem centros de distribuição com operação própria, e os independentes são abastecidos por distribuidores. E segundo, os times de loja são os responsáveis pelo preenchimento de informações referentes à rastreabilidade dos materiais recolhidos, tais como: peso, placa do carro, identificação do motorista, etc. Tal processo poderia ser mais prático e ágil, como forma de desburocratizar o método de coleta e manter o time das lojas focado no atendimento ao cliente.  

De qualquer forma, o piloto executado em São Paulo demonstrou pontos a melhorar, que devem ser implementados nos próximos meses, não somente com foco em ter um sistema único que atenderá a todos os pontos de coleta, mas também focado nos inputs que tornam o fluxo ágil.

RF: Há dados da coleta desde o início até o momento? Toneladas recolhidas, por exemplo.

DS: Neste ano, estamos coletando mensalmente mais de 2,5 toneladas de medicamentos em desuso, mas o ponto relevante aqui é o crescimento do fluxo de recolhimento nas lojas que começaram a recolher em 2021. Essas unidades recolheram, no primeiro mês, menos de 100kg de medicamentos em desuso e, três meses depois, o mesmo total de lojas arrecadou quase 1 tonelada de produtos.

Em março de 2021, atingimos a marca de operação para recolhimento de medicamentos em desuso em 95% da nossa rede, o que representa mais de 1,3 mil lojas em seis estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Espírito Santo.

Em abril de 2021, registramos 1 tonelada de medicamentos em desuso recolhidos. Em maio, esse número saltou para 1,5 tonelada. Em junho, já foram recolhidas 2 toneladas e, em julho, um total de aproximadamente 2,6 toneladas.  Esses números representam muito mais do que o cuidado com o meio ambiente. Eles revelam uma população mais engajada e preocupada com as questões que envolvem sustentabilidade, o que é muito positivo para o nosso planeta.

Em junho, já foram recolhidas 2 toneladas e, em julho, um total de aproximadamente 2,6 toneladas.  Esses números representam muito mais do que o cuidado com o meio ambiente. Eles revelam uma população mais engajada e preocupada com as questões que envolvem sustentabilidade, o que é muito positivo para o nosso planeta.

RF: Quais foram os custos, ou seja, quanto a DPSP gastou inicialmente para implantar a logística reversa e quanto está gastando mensalmente?

DS: Essa é uma das principais curiosidades de quem está implementando a logística reversa nas lojas. A primeira especificação da lei é sobre o uso de dispenser para a coleta dos medicamentos. O estabelecimento que não instalar o coletor no ponto de venda poderá ser autuado em caso de fiscalização. O custo do dispenser em tamanho que consideramos adequado para o processo é de, aproximadamente, R$ 500. O lojista também precisará de uma balança que custa, em média, R$ 50. O objeto servirá para pesar o material que será recolhido no estabelecimento.

O custo com o frete vai variar de acordo com o tipo de contrato que a drogaria tem com esse serviço. Em algumas empresas, por exemplo, as rotas de entrega são terceirizadas e, no contrato, pode haver uma cláusula que impeça o transporte do material via frete de retorno. Outro ponto que vale citar são as drogarias independentes que compram direto do distribuidor. Nesses casos, o distribuidor se torna parte responsável pela política de descarte, fazendo o recolhimento e dando a destinação correta. No Grupo DPSP, nós não temos custos adicionais com o envio de medicamentos em desuso aos nossos centros de distribuição porque a destinação é feita via frete de retorno de nossa frota própria.  

Nos centros de distribuição, podemos elencar os seguintes custos não recorrentes: sinalização para áreas de identificação e armazenamento do material, aquisição de contentores que serão utilizados para acomodar os resíduos depositados e uma balança para conferência da massa recolhida por loja. Cada contentor custa, em média, R$ 1,5 mil e são necessárias quatro unidades para acomodação dos produtos que chegam das lojas – buffer de entrada – e os produtos que estão prontos para serem descartados após conferência do peso – buffer de saída. Já a sinalização física tem um custo irrisório. Entretanto, ressalto que o Grupo DPSP optou pela aquisição desses cestos a fim de conferir celeridade ao processo de rastreio, carga e descarga dos medicamentos que são entregues nos centros de distribuição e que a compra dos cestos não é obrigatória por lei, apesar de gerar um ganho considerável em produtividade, pois, em locais em que há maior volumetria, é possível entregar à contratada o contentor cheio, recebendo do carro de coleta o equipamento vazio, para seguir o ciclo de ida e volta entre o centro de distribuição e o ponto de incineração.

Dos custos recorrentes, a equipe envolvida nos centros de distribuição (head count) tem custo quase irrelevante em relação à toda operação que temos em nossos centros de distribuição. Para se ter uma ideia, não é necessário um head count dedicado para o processo, dado que não existe triagem das unidades descartadas.

Enquanto a legislação não entra em vigor, é fato também que o custo do descarte em si deve ser arcado pelo varejista. No mercado, o custo de incineração é de R$ 4 a R$ 6 por quilo. No nosso caso, optamos por realizar um contrato piloto em que uma das empresas responsáveis pela destinação também realiza a triagem desse material internamente, separando as caixas de remédio das cartelas de medicamento, por exemplo. Com isso, o custo da incineração caiu para R$ 3 por quilo. Dessa maneira, é possível gerar menos monóxido de carbono ao ambiente, uma vez que são incinerados apenas os medicamentos que poderiam contaminar rios e lençóis freáticos, e as caixas são destinadas à reciclagem. Além de evitar os riscos da automedicação, o objetivo desse projeto é ajudar o nosso planeta, por isso procuramos parcerias que, além da incineração, também ofereçam o serviço de triagem.

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RF: Como tem sido a adesão do público e como a DPSP comunica o serviço de coleta aos clientes?

DS: Nós observamos uma tendência de crescimento exponencial na arrecadação de medicamentos em desuso nas nossas lojas. Para exemplificar esse aumento, podemos usar o centro de distribuição que abastece o Rio de Janeiro. Das 320 lojas no Estado, 282 implementaram o serviço de logística reversa no dia 1º de março de 2021. Em abril, 17 quilos de resíduos foram encaminhados aos centros de distribuição. Em maio, foram quase 45 quilos. Em junho, atingimos 120 quilos coletados e, em julho, fomos surpreendidos com um montante de 390 quilos. Esses números revelam uma aderência muito forte dos consumidores à marca e como eles reconhecem nossas lojas como um ponto seguro de descarte de medicamentos. Com os números desses últimos meses e o compreendimento do comportamento dos nossos clientes, estimamos que, após 12 meses de processo em funcionamento, o mesmo grupo de lojas alcance algo próximo a 1 tonelada/mês de medicamentos em desuso recolhidos.

Das 320 lojas no Estado, 282 implementaram o serviço de logística reversa no dia 1º de março de 2021. Em abril, 17 quilos de resíduos foram encaminhados aos centros de distribuição. Em maio, foram quase 45 quilos. Em junho, atingimos 120 quilos coletados e, em julho, fomos surpreendidos com um montante de 390 quilos.

Os bons resultados estão atrelados ao trabalho sério que fazemos, garantindo que ocorra uma destinação correta para esses resíduos. Além do treinamento constante com os nossos funcionários para que reforcem a importância desse tipo de movimento com os clientes, nós também enviamos e-mail marketing e sinalizamos, por meio de banners, que aquela loja faz parte do projeto de logística reversa.

RF: Que pontos você acha que deveriam ser aprimorados no processo da logística reversa conforme preconiza o Decreto Federal 10.388 e por quê?

DS: Entendemos que há três pontos que devem serem discutidos com os envolvidos, a fim de aprimorar o processo e gerar melhores resultados e eficiência nos custos, sem deixar de lado as especificações e os objetivos da legislação.

O primeiro é o sistema único de informações, com abrangência nacional e ajustes nos inputs das lojas e dos centros de distribuição. O sistema testado no Estado de São Paulo teve algumas melhorias já implementadas, como, por exemplo, a possibilidade de o varejista incluir uma loja que não é obrigatória pela legislação no circuito de coleta, de modo a consolidar de forma organizada as informações em uma plataforma única, sem onerar a indústria, que, nesse caso, não é responsável pelo custeio da destinação.

Algumas outras melhorias estão em desenvolvimento, e a principal delas gira em torno do procedimento de retirada. Para uma farmácia independente, que precisa agendar uma retirada, o sistema prevê que o distribuidor deva aceitar o agendamento feito pelo ponto de venda, e, na sequência, o ponto de venda dará os inputs necessários como informações do carro, do motorista e da massa entregue ao transporte. Para uma grande rede, com frota própria e abastecimento diário, vemos como improdutivo tal premissa, pois geraria necessidade de recurso ou investimento em automação sistêmica para validar um desnecessário agendamento feito pelo ponto de venda.

É importante também ficarmos atentos quanto à abrangência nacional do sistema. O método hoje utilizado no estado de São Paulo será o mesmo em todo território nacional? Se a resposta for não, o varejista precisará se preparar e treinar as suas lojas região por região.

Um segundo ponto de atenção é o SLA – garantia do nível de serviço – para retirada dos produtos nos pontos de consolidação, ou seja, nos centros de distribuição. Os parceiros responsáveis pela coleta precisam acordar, no “dia zero”, um SLA para retirada nos centros de distribuição. Esse SLA, no início da operação, precisa de flexibilidade, pois o volume movimentado tende a aumentar exponencialmente nos primeiros meses e, em caso de falhas na retirada, aumenta-se o risco de guarda de resíduos fora da área demarcada para o processo de reversa de medicamentos em desusos, e sabemos que, via de regra, não é saudável qualquer tipo de risco de proximidade de medicamentos em desuso dos produtos vendáveis dos varejistas. Portanto, muita atenção nesse ponto e, em vista de qualquer risco, invistam em contentores e locais que garantam segurança no processo de retirada, para mitigar qualquer risco à saúde dos seus colaboradores e clientes.

Um terceiro ponto é o método de descarte, com menor impacto ao meio ambiente. Como comentei anteriormente, nosso grupo promoveu contratos em que a empresa de descarte foi capaz de investir seus recursos humanos em triagem, porém com grande benefício na separação do que deve ser incinerado e o que pode ser reciclado. O custo, neste caso, é menor que a incineração, e o resultado, para o meio ambiente, é melhor. Há uma grande oportunidade aqui, principalmente no que se refere ao marketing nacional e apelo de comunicação à população, o que por certo só deve melhorar, além do custo, a aderência de cada vez mais clientes ao novo processo.

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