Em artigos anteriores, abordei as questões do impacto do volume de operações no capital de giro líquido e a necessidade de se manter reservas de liquidez para enfrentar os riscos do negócio. Neste artigo, pretendo, por meio de um exemplo muito simples, dimensionar o impacto de queda repentina das vendas na geração de caixa da empresa. Ocorre que esse é um cenário bastante provável para o varejo farmacêutico no curto prazo. Após um breve período de elevação das vendas devido à pandemia da Covid-19, espera-se por meses de recessão antes da recuperação econômica.
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Imaginemos uma farmácia que inicia seu ciclo operacional com a compra de R$ 100 mil em mercadorias para pagamento em 30 dias após a entrega. Suponha-se que essas mercadorias passem 30 dias em estoque até serem vendidas por R$ 150 mil através de cartões de crédito; que os recebíveis/faturas de cartões de crédito paguem 1% de comissão do estabelecimento e sejam antecipadas ao custo de 1% de taxa de antecipação. Além disso, ao final do mês, deve-se pagar R$ 10 mil de aluguel da loja, R$ 20 mil de despesas com pessoal e R$ 10 mil de outras despesas operacionais. Assim, vejamos o impacto no caixa ao final do mês, desconsiderando tributos.
- Entradas de caixa com antecipação de recebíveis a menos 2%: + R$ 147 mil
- Saídas de caixa para pagamento de mercadorias e despesas: (-) R$ 140 mil
- Superávit de caixa (aumento das reservas financeiras de liquidez): + R$ 7 mil
Iniciando novo ciclo operacional, compra-se novo lote de mercadorias por R$ 100 mil com 30 dias de prazo para pagamento. Porém, após 30 dias de estocagem, verifica-se que as vendas tiveram queda de 10% em relação ao mês anterior, montando a R$ 135 mil apenas. Mantidas as demais variáveis, tem-se o seguinte resultado de caixa no mês.
- Entradas de caixa: + R$ 132,3 mil
- Saídas de caixa: (-) R$ 140,0 mil
- Déficit de caixa: (-) R$ 7,7 mil
O exemplo, embora muito simples, reflete uma situação real de empresa do varejo farmacêutico. Daí, podemos fazer algumas considerações:
- Mantido o volume e as condições operacionais do negócio, quedas nas vendas significarão consumo das reservas de liquidez da empresa;
- Se a empresa não tiver reservas de liquidez para suportar o consumo do seu caixa, terá que buscar fontes adicionais de financiamento;
- Quanto maior for a queda nas vendas e o tempo que perdurar, maior será o risco de quebra da empresa.
Concluindo, em resumo, recomendo o seguinte:
- O planejamento financeiro da farmácia deve considerar o cenário macro e microeconômico em que atua para, com agilidade e tempestividade, reprogramar compras e fazer promoções de vendas, minimizando os impactos negativos da queda nas vendas no caixa;
- Um bom planejamento depende da análise de dados e informações sobre o mix de vendas (Marca, Genérico, MIP, Perfumaria) e dos principais produtos;
- Bons sistemas de tecnologia da informação podem prover informações de qualidade ao processo de planejamento e controle desde que sejam foco de atenção e investimento por parte do empresário farmacêutico.
Fica aqui o alerta: qual a projeção das vendas da sua farmácia para os próximos meses e que providências irá tomar?
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