Eleições e operação no varejo: o que a segunda tem a aprender com a primeira?

Foto: Humberto Teski
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Trabalhei como presidente de mesa nas eleições de 2018, o que já tinha feito em eleições anteriores. É uma experiência muito interessante e que recomendo a quem tiver curiosidade de vivenciá-la.

Havia certa preocupação com o 1º turno devido à grande quantidade de postos a serem eleitos (presidente, senador, governador, deputados federais e estaduais) e como isso impactaria o andamento das filas de eleitores.

Seguindo minha vocação para a organização de processos e logística, não resisti à curiosidade de medir quanto tempo levava, em média, o eleitor para concluir sua votação. As medições, marcadas no cronômetro do meu celular sobre a mesa, indicavam um tempo médio de 47 segundos a partir do momento em que o eleitor entrava na cabine eleitoral.

Passada a primeira meia hora de votação, esta ganhou um ritmo quase frenético com uma fila de eleitores que não parava de se avolumar na porta da seção eleitoral, dando a impressão de que estávamos presenciando um comparecimento em massa muito superior ao de eleições passadas.

Reclamações, pessoas nervosas há mais de uma hora na fila quilométrica e nós, voluntários nas eleições, trabalhando num ritmo puxado, a ponto de não conseguirmos ir ao banheiro ou almoçar. Ao final do dia, que passou voando, verifiquei o percentual de comparecimento de minha seção eleitoral: 70%.

Pois bem, veio o 2º turno e agora, com apenas duas opções (presidente e governador), esperava-se uma votação mais tranquila, naturalmente. Corredores vazios, votações rápidas, absoluta tranquilidade.

Mas não precisava exagerar, os eleitores, literalmente, vinham a conta-gotas, e o tempo médio de permanência na cabine eleitoral era de 15 segundos. Estava tão vazio e tão tranquilo que, a certo ponto, cheguei a crer que estava diante de uma abstenção em massa no segundo turno.

Porém, curiosamente, ao final do dia, ao checar o total de presentes e abstenções, havia ocorrido o mesmo percentual de comparecimento do primeiro turno: 70%. Ou seja, a mesma quantidade de pessoas havia comparecido, porém não houve filas. Como era possível? Afinal, a operação de recebimento, identificação e liberação do eleitor tinha sido idêntica ao primeiro turno. O que então havia mudado?

Esse relato ilustra o poder dos segundos nas operações e na logística de processos. Considerando que a principal variável que sofreu alteração entre o primeiro e o segundo turno foi o tempo de permanência na cabine, os meros 30 e poucos segundos de diferença se revelaram críticos para a logística eleitoral.

Agora, fazendo um paralelo para a operação de varejo, podemos deduzir que alguns segundos podem implicar filas ou gargalos logísticos em diferentes setores da empresa. Portanto, caso você esteja enfrentando dificuldades dessa natureza, pode ser que a solução esteja num detalhe, em algo que faça consumir segundos além da conta e que acabe fazendo “o copo transbordar”.

Entre os fatores que podemos listar como “consumidores de segundos” podemos citar: aplicativos ou ferramentas pouco amigáveis que exigem a abertura de muitas janelas, computadores lentos, conexões instáveis, falta de treinamento específico, pouca agilidade de atendimento, desenho físico inadequado do local de trabalho, redundâncias de atividade, entre outros.

Certamente, a esse momento, você pode estar se dando conta de algum “consumidor de segundos” na sua operação. Quem sabe abrir a temporada de caça aos segundos desperdiçados pode ser uma boa inciativa para 2019? Boa sorte!

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Fernando Gaspar

Mestre em Administração, com especialização em Gestão pela McGill University e pós-graduação em Varejo. Em sua coluna, Fernando faz reflexões sobre gestão, operação de varejo e outras “cositas” mais.
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