A Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag) realizou uma pesquisa em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) sobre a abrangência nacional do segmento de farmácias de manipulação. O Panorama Setorial 2022 mostrou que, entre 2016 e 2021, houve um aumento de 15% na aderência a esse mercado, totalizando mais de 1.095 novos estabelecimentos. A pesquisa aponta que o faturamento do setor magistral, em 2021, alcançou R$ 9,58 bilhões, com valor adicionado de R$ 5,25 bilhões, correspondendo a 0,060% do PIB nacional de 2021, que foi de R$ 8,7 trilhões.
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Com a pandemia da Covid-19, a manipulação tornou-se uma alternativa para o consumidor que busca personalização do tratamento. Com isso, o negócio tende a crescer nos próximos anos. Uma tendência são as drogarias abrindo seus próprios laboratórios com o objetivo de ampliar o número de clientes e atender a um público mais variado. A diversificação de produtos e serviços vem se mostrando como boa alternativa para aumento de receita nas empresas do setor farma.
O consultor e diretor de Cursos do Instituto Bulla, Cadri Awad, é um dos grandes defensores desse modelo híbrido de farmácia, que mescla drogaria com manipulação. Cadri vem anunciando essa tendência há, pelo menos, três anos em seus cursos Brasil afora. “A adoção desse modelo atende à necessidade de diversificação de produtos e serviços para fidelizar o cliente. Além de melhorar a rentabilidade, a drogaria ganha novos públicos, mais preocupados com saúde e prevenção”, comenta.
Grau de investimento vai depender da estrutura a ser montada
Um dos principais investimentos iniciais é a montagem do laboratório de manipulação, cujo tamanho vai depender da complexidade das fórmulas a serem desenvolvidas. “A estrutura é o que vai determinar o valor do investimento a ser feito, porque existem farmácias que já têm local e precisam apenas adequá-lo”, explica Cadri.
O empresário deve escolher as fórmulas com as quais gostaria de trabalhar antes de iniciar o negócio, porque essa escolha é fator determinante para o quanto se vai gastar na montagem do laboratório. Entre as opções que podem ser manipuladas estão diferentes tipos de medicamentos, como alopáticos e fitoterápicos, cosméticos, florais, suplementos vitamínicos, suplementos hormonais, entre outros.
“Esse investimento inicial varia entre R$ 100 mil e R$ 500 mil, dependendo do que se quer manipular inicialmente. Existem classes de produtos mais simples para quem deseja começar a entender do ramo. A ampliação dos tipos de fórmulas manipuladas pode ser gradativa, de acordo com autorização das vigilâncias sanitárias e Anvisa”, comenta Cadri.
Para Cadri, o modelo de drogaria com manipulação é viável para todos os portes de empresas, das pequenas às grandes redes. “Existem estabelecimentos que já trabalham com os dois modelos, utilizando o mesmo CNPJ para drogaria e manipulação ou com CNPJs separados. Qualquer um dos casos é possível e não há restrições quanto a isso”, destaca.
Apresente opções ao consumidor
Com a alta no mercado de prevenção e bem-estar, o shopper também procura por suplementos, vitaminas, dermocosméticos e produtos semelhantes para cuidar da saúde. A drogaria com manipulação pode investir nesse tipo de mix para expandir seu faturamento. No entanto, é muito importante conhecer o público-alvo para definir um portfólio com potencial de venda.
Um ponto importante a destacar é que a farmácia de manipulação não depende apenas de uma prescrição médica para atuar no segmento. As normas atuais do Conselho Federal de Farmácia (CFF) autorizam farmacêuticos a prescreverem fórmulas que são isentas de prescrição médica. Essa possibilidade abre novos mercados a serem explorados, entre eles, o de cosméticos e fitoterápicos.
Tecnologia pode ser uma grande aliada
A BRQ e Snaq realizaram um levantamento sobre o Cenário Digital do Varejo 2023. Foram apresentados dados que mostram que os brasileiros passam um terço do dia no celular. São mais de 156 milhões de brasileiros utilizando a internet e uma média de 5,3 horas por dia apenas no celular. Com esses índices, as drogarias podem utilizar a tecnologia a seu favor para apresentar os produtos e serviços de manipulação de medicamentos.
O Grupo Raia Drogasil, por exemplo, investe em laboratório próprio com fitoterápicos, alopáticos, florais, dermatológicos, suplementos e ortomoleculares, e tem promovido a praticidade, abrindo um formulário em seu site. Por meio desse espaço, os consumidores iniciam o processo de compra, enviando a receita e preenchendo os dados pessoais. Após o envio, o shopper recebe a cotação por e-mail, realiza o pagamento e adquire o produto.
Muitas drogarias não possuem e-commerce próprio, uma realidade que ainda é limitada a grandes grupos econômicos. No entanto, esse fato não é um limitador porque existem marketplaces com excelente alcance no mercado brasileiro.
Sendo assim, o mais comum de ocorrer é o antigo e conhecido atendimento de balcão, até mesmo para a manipulação. Se esse é o seu caso, invista no treinamento da equipe, que, em geral, está capacitada apenas para dispensar caixinhas e não fórmulas. A abordagem é diferente e os atendentes deve estar preparados para esse novo desafio.
“Conheço drogarias que estão treinando seus funcionários para que o atendimento seja generalizado, ou seja, os atendentes dispensam medicamentos industrializados e fórmulas manipuladas, pois estão preparados para os dois casos”, sugere Cadri.
Maior margem de lucratividade
A margem de lucratividade de uma farmácia de manipulação é maior se comparada com a de uma drogaria. “O lucro líquido de uma drogaria de pequeno e médio porte fica entre 6% e 12%. Já no setor magistral, o percentual gira em torno de 15% a 25%. A manipulação, portanto, proporciona maior lucratividade, apesar do maior grau de complexidade do negócio e da necessidade de contratação de farmacêuticos especializados”, pontua Cadri.
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Fato é que a entrada de drogarias no ramo de manipulação tende a valorizar o setor magistral, conferindo mais relevância a ele. “Com o investimento das grandes redes nesse segmento, o modelo de drogaria com manipulação vai chamar ainda mais a atenção da sociedade brasileira. Mas é fundamental fazer um plano de negócios antes de entrar no mercado”, alerta o consultor.