Future Trends debate potencial da farmácia como agente de saúde

Durante dois dias, palestrantes internacionais, especialistas e varejistas debruçaram-se sobre o papel clínico da farmácia auxiliado pela tecnologia.
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O Abrafarma Future Trends é um dos eventos mais aguardados do setor farmacêutico – com toda a razão – porque, além de criar oportunidades de negócios entre as redes da Abrafarma e a indústria farmacêutica, também é um congresso em que diversos temas atuais e relevantes do segmento são debatidos exaustivamente durante dois dias. E foi exatamente assim na edição de 2023, que ocorreu no Transamerica Expo Center nos dias 12 e 13 de setembro, em São Paulo.

Leia: Abrafarma realiza capacitação para farmacêuticos no RJ

Apesar de o tema central do evento ter sido o uso da tecnologia em diversas áreas, a tônica acabou centrada no potencial da farmácia como agente de transformação do sistema de saúde no Brasil, o que levou a discussões sobre ampliação do acesso ao atendimento primário, protagonismo dos farmacêuticos e aspectos regulatórios envolvidos na prestação de serviços de saúde.

Palestras com participações internacionais trouxeram histórias e experiências de farmácias que já assumiram a função de agentes de saúde, contribuindo no combate a doenças crônicas e no acesso à atenção primária. O líder sênior e estrategista de Inovação em Experiência do Cliente na Wd Health + Wellness, Dan Stanek, mostrou como as redes CVS, Walmart e Amazon, por exemplo, estão atuando como disruptores no varejo farmacêutico dos Estados Unidos e Canadá.

Palestras e debates giraram em torno do papel clínico da farmácia

Empresas estrangeiras alavancam papel clínico das farmácias

Por diversas vezes, palestrantes e debatedores afirmaram que a farmácia do futuro vai além da venda do medicamento, tanto é que a consultoria internacional Accenture já informou que, nos Estados Unidos e Canadá, 67% dos consumidores usaram serviços ampliados nas farmácias durante a pandemia de Covid-19. E a consultoria Forrester prevê que clínicas de saúde de varejo dobrarão sua participação em cuidados primários em 2023.

A tendência aponta para uma farmácia que desenvolve um ecossistema focado no consumidor, composto por cuidados primários, virtuais e emergenciais, bem como dispensação tradicional, educação em saúde comportamental, exames de análises clínicas e saúde domiciliar. A CVS já possui 1,1 mil clínicas expressas que realizam cuidados emergenciais e quase mil centros de cuidados para pacientes com doenças crônicas.

As palestras internacionais foram seguidas de debates que trouxeram os temas para o contexto brasileiro. Por aqui, muitas são as iniciativas de farmácias – e não apenas da Abrafarma – que decidiram investir na prestação de serviços de saúde para se conectarem de forma mais profunda com o cliente, ultrapassando os limites da dispensação do medicamento e atuando como porta de entrada para o sistema de saúde.

Questões regulatórias avançam e favorecem o setor brasileiro

Os aspectos regulatórios que envolvem a atuação da farmácia nos serviços de saúde foram destacados em, pelo menos, dois painéis, que contaram com a participação de representantes da Anvisa e da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL). Entre os tópicos debatidos estiveram a revisão da RDC 44/2009, que precisa ser modernizada para atender às necessidades atuais da farmácia, e a recém-publicada RDC 786, que autoriza a realização de exames de análises clínicas nas farmácias.

Painel com Anvisa e varejistas discute revisão da RDC 44

Em diversos momentos, as discussões levantaram pontos importantes, como a parceria do varejo farmacêutico com planos de saúde para cobertura de exames feitos nas farmácias e a inclusão de testes rápidos no programa Farmácia Popular para que sejam subsidiados pelo governo, da mesma forma que medicamentos.

Ainda dentro de aspecto regulatório, varejistas convidados pontuaram as dificuldades enfrentadas nas relações com as vigilâncias sanitárias locais, que divergem na interpretação das normas e, muitas vezes, impõem regras próprias. Um exemplo é a proibição do serviço de bioimpedância em algumas localidades. Ficou claro que a Anvisa precisa atuar de forma mais enfática na orientação às vigilâncias para que a interpretação das normas seja semelhante em todos os municípios brasileiros.

RDC 786 esteve no centro das discussões

Após a publicação da RDC 786, os exames rápidos disparam. Segundo dados da ClinicarX, de junho a julho deste ano, os testes cresceram 8%, enquanto de julho a agosto, o crescimento foi de 38%, reflexo da nova norma. Na comparação do 1º com o 2º quadrimestre de 2023, o aumento foi de 40%. E de 2022 para 2023, os testes tiveram crescimento de 120%. As regiões que mais realizam testes rápidos são Sul e Nordeste.

Leia também: Conheça os testes rápidos que não podem faltar na sua farmácia

No ranking de redes que mais realizam testes rápidos para além de Covid-19 estão Minas Brasil, Brava, Tapajós, Drogarias Maxi, Panvel, Farmácias São João, Vale Verde, Santa Branca, Pague Menos e Indiana. E os três testes mais aplicados são Dengue, Beta HCG e Hemoglobina Glicada, de acordo com pesquisa mais recente da ClinicarX. A Minas Mais, líder, possui 57 salas com serviços básicos, 40 salas com exames rápidos e 17 salas de vacinação.

Cassyano Correr faz a mediação do painel sobre a RDC 786

Arenas de ideias: temas focados em inovação e novas categorias de produtos

Paralelamente às discussões com foco em saúde, o Future Trends trouxe uma grade de palestras voltadas à liderança, sustentabilidade, transformação digital e inovação, jornada omnichannel, inteligência artificial, novo consumidor e mercado de suplementação alimentar. Este último tema ganhou, inclusive, uma arena dedicada a debater como essa categoria vem se desenvolvendo no farma e as oportunidades que estão surgindo com ela.

Uma das apresentações foi realizada pelo diretor de Marketing e Comercial da Integralmédica, fabricante líder de suplementos para esportistas. Fernando Moura afirmou que a categoria vai dobrar de tamanho nos próximos anos e que grandes indústrias estão entrando com força nesse segmento, entre elas, Nestlé, Danone e Coca-Cola.

O diretor apresentou dados que corroboram as afirmações de que vale a pena investir na categoria. Um deles mostra que 47% dos brasileiros começaram a tomar consciência sobre a necessidade de adotar novos hábitos alimentares no pós-pandemia. Outro aponta o Brasil como ocupante do 1º lugar em cirurgias plásticas e 2º em procedimentos estéticos não cirúrgicos, demonstrando que as pessoas estão mais focadas em beleza e bem-estar.

Categoria de suplementação é uma das grandes apostas para o farma

Outro dado que reflete oportunidades da categoria de suplementação para o varejista do farma é a frequência de compra: 28% dos consumidores compram a cada dois meses e 26% compram todo mês. Mais de 70% adquirem suplementos em um intervalo de 60 dias, gastando aproximadamente R$ 200 em cada compra.

Para a categoria de suplementação, o mercado farma representa credibilidade, conveniência e capilaridade, atraindo pessoas comuns que estão começando a consumir esses produtos para prevenir doenças e cuidar melhor da saúde. Nesse cenário, o varejista precisa saber escolher as marcas, montar o mix certo e expor corretamente.

Droga Raia é uma das redes que já apostam pesado na categoria de suplementação

Feira com grandes players do mercado

Estiveram presentes farmacêuticas como Aché, Cimed, Geolab, Grupo NC, Sanofi Medley, entre outras. Um dos destaques foi o estande do Grupo Boticário com as marcas Eudora Siàge, Dr. Jones, Pampers e Vult, marcando posição dentro do segmento.

O evento repetiu o formato de anos anteriores, tendo como ponto alto a apresentação das redes da Abrafarma, que, em encontros restritos a convidados e indústrias, apresentaram suas estratégias de expansão e crescimento.

Grupo Boticário vem expandindo atuação no canal farma

Em 2024, o Future Trends será no fim de agosto e vai acontecer em um novo local: Distrito Anhembi, espaço que está passando por uma revitalização e se transformará em um complexo para grandes eventos, entretenimento e conveniência. O local tem 400 mil metros quadrados, 28 espaços versáteis e integrados para os mais diversos tamanhos e funcionalidades e seis mil vagas de estacionamento.

A Abrafarma reúne 30 grandes redes, que fazem mais de 1 bilhão de atendimentos e faturam R$ 86 bilhões por ano com a venda de mais de 3 bilhões de unidades, representando 44,7% do mercado de medicamentos em todo o Brasil. Das 10,1 mil drogarias que estão na base da Abrafarma, 5,6 mil já possuem salas farmacêuticas em funcionamento.

Redes da Abrafarma já possuem 5,6 mil salas farmacêuticas em operação
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Viviane Massi

Viviane Massi é jornalista e editora de conteúdo da Revista da Farmácia. Com mais de 20 anos de atuação no Canal Farma, Viviane é especialista em cobrir fatos, eventos e temas do setor.
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