Entenda como funciona a entrega que utiliza drone autônomo

Saiba como funciona a tecnologia do drone autônomo, responsável pela primeira entrega comercial no Brasil.

A Drogaria Venancio fez a primeira entrega comercial do Brasil com um drone totalmente autônomo. A experiência aconteceu em Itaipava, no dia 22 de maio. Nesta entrevista, o fundador, sócio e CEO da MyView Soluções com Drones, Thiago Calvet, fala do funcionamento da tecnologia, das vantagens, dos riscos e de como isso pode mudar a logística no varejo brasileiro.

Revista da Farmácia: Por que a entrega da Venancio foi considerada a primeira feita, no Brasil, com drone autônomo?

Thiago Calvet: Fizemos a primeira entrega comercial no Brasil de um produto – não somente de farmácia, mas de qualquer produto – utilizando um drone autônomo, ou seja, um drone que decola, voa na direção programada, evita e contorna obstáculos, aproxima-se do ponto de entrega, libera a mercadoria e retorna ao ponto de origem, sem qualquer interferência ou auxílio humano.

RF: Como funciona a tecnologia?

Calvet: A aeronave tem capacidade de carga (payload) compatível com entregas de curto percurso, com inteligência artificial, sensores de obstáculos e direcionamento por geolocalização dinâmica, entre outros softwares proprietários.

RF: Ela pode ser utilizada em qualquer local e cidade? Há exceções para seu uso?

Calvet: Desenvolvemos um projeto com o objetivo de operar em qualquer local, desde que cumpridas todas as regulamentações do poder público e respeitados o que chamamos de itens de controle, que são distância, altura, velocidade e direção do vento. Essa entrega foi nosso MVP (Minimal Viable Product), constante da Fase 4 do projeto MyView D4 (Door-to-Door Drone Delivery), iniciado em julho de 2018. A legislação ainda precisa evoluir para que seja possível operar em qualquer cidade, de forma legal, com aeronaves remotas para delivery.

RF: Quais as chances de falha? É possível que o drone falhe no ar, caia, se perca, vá para outro endereço? É possível um drone se chocar em outro?

Calvet: Reside aí o maior encanto deste projeto. Naturalmente, todo equipamento é sujeito a falhas mecânicas, eletrônicas ou de software. Nossa obstinação é reduzir essa possibilidade a um nível irrisório, similar ao do transporte aéreo mundial de passageiros. Todos os componentes têm redundância para falhas e trabalhamos com uma política operacional similar à de companhias aéreas para evitar erros humanos no desenvolvimento e na manutenção dos sistemas. Com a tecnologia que desenvolvemos, são muito remotas as possibilidades de erro de endereço ou de dois drones se chocarem no ar. De qualquer forma, quaisquer dessas improváveis ocorrências seriam infinitamente menores e menos trágicas do que acidentes aéreos que envolvem vidas humanas. A aeronave utilizada pela Venancio opera com menos de 10 Kg. 

RF: E quando há mau tempo, vento, chuva? Os riscos aumentam?

Calvet: Também nesse caso, o planejamento de voo do drone autônomo segue a mesma premissa do transporte aéreo tradicional, devendo considerar condições climáticas e os meios de lidar com isso, incluindo a possibilidade de atrasar ou até evitar o voo. A tecnologia vai cada vez mais evoluir para situações adversas, assim como na aviação comercial de passageiros, em que há o controle e até a operação em condições meteorológicas adversas.

RF: Vamos pensar numa drogaria com fluxo muito grande de pedidos. Como essa tecnologia funcionaria? O drone teria capacidade de levar vários produtos de uma vez? Ou tem que levar um a um?

Calvet: A aeronave que realizou a entrega do Leite de Rosas pela Drogaria Venancio está sendo preparada para entregas de múltiplos produtos em diferentes endereços, em percursos com grandes obstáculos geográficos, como montanhas, grandes prédios, entre outros. Serão cinco etapas da Fase 4 do projeto, quando todos esses cenários serão testados, seguindo sempre a regulamentação vigente.

RF: Qualquer produto pode ser transportado por drone, até mesmo medicamentos?

Calvet: Produtos vendidos em farmácias e drogarias, como medicamentos e cosméticos, reúnem as principais características para o transporte por drones: baixa relação payload/valor agregado, ou seja, peso por Real transportado.

RF: E quanto aos medicamentos controlados, que precisam de retenção de receita?

Calvet: Assim como na entrega por motocicletas, serviço recorrente das farmácias atualmente, acreditamos que serão desenvolvidas soluções criativas e legais para cumprimento das normas reguladoras para entrega de medicamentos controlados, ou de qualquer outro produto, por drones autônomos.

RF: Em relação aos benefícios: quais são as vantagens de fazer entrega por drones?

Calvet: A logística last mile – última etapa do comércio eletrônico – é a que enfrenta os maiores desafios mundialmente e a parte mais cara para qualquer empresa. Não à toa, é a fase da logística que sofre maiores investimentos com tecnologias disruptivas. A missão da nossa solução é resolver o grande problema dessa última perna logística até o consumidor final, com a redução de custo e diminuição de tempo de entrega. Os benefícios vão desde o menor tempo para entrega até a redução do tráfego de carros e motos nas ruas das grandes cidades, com consequente redução da poluição e menor risco de acidentes.

RF: No ponto de venda, a farmácia precisaria ter um funcionário somente para operar o drone? Como seria esse treinamento? Quanto custa um drone para a farmácia? Seria o caso de ter mais de um drone quando há muita demanda por entrega em domicílio?

Calvet: Acreditamos que haverá diversos modelos de serviço de entrega, com equipes próprias ou terceirizadas. Pelo fato de ser uma tecnologia recente e ainda em desenvolvimento, além da regulamentação também em evolução, apostamos que o serviço terceirizado terá a melhor relação custo/benefício. A tecnologia, a estrutura das cidades e a legislação evoluirão para um centro de operações por regiões de cidades, que atenderá diversos players do mercado.

RF: A farmácia deveria cobrar pela entrega? Seria uma maneira de amenizar os custos com a tecnologia?

Calvet: Inicialmente haverá uma vantagem de vinculação de imagem da drogaria com a inovação, com a modernidade, com o futuro, e isso demanda investimento. Futuramente, acredito que prevalecerá um modelo de equilíbrio econômico que não poderá onerar em demasia o consumidor, que somente pagará pela entrega se perceber valor no novo modelo. 

RF: Será que essa moda de entrega por drones pega?

Calvet:
Não vemos propriamente como moda, mas como uma tendência inexorável gerada pela evolução contínua da tecnologia, em atendimento a uma demanda crescente por praticidade, agilidade e segurança. Certas tecnologias chegam e acabam sendo insubstituíveis na vida cotidiana. O maior exemplo recente disso é o smartphone. Os drones chegaram, já estão revolucionando diversas indústrias e isso é um caminho sem volta.

RF: Como fica a questão perante os órgãos reguladores, como Anvisa e Vigilância Sanitária? Esse tipo de transporte é permitido?

Calvet:
Acompanhamos de perto as iniciativas para evolução da regulação do setor de transporte aéreo não pilotado, que vem buscando acompanhar as demandas do mercado. Da mesma forma, os órgãos reguladores da indústria farmacêutica seguramente estão atentos e se preparando para considerar essa nova realidade. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) vem fazendo um excelente trabalho para evoluir com a legislação de drones no País. Existem grandes desafios nessa área, que vêm sendo vencidos em diversos países e muito em breve também aqui no Brasil.

Veja também: 7 tecnologias que fazem diferença no varejo

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