Pandemia e transformação digital: o que está diferente para as farmácias

Pandemia e transformação digital
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O último painel do Abrafarma Future Trends 2020 trouxe uma discussão sobre as ações das redes de farmácias diante da imprevisibilidade da pandemia da Covid-19, quais estão sendo os principais desafios desses meses e o que ficará como legado para o futuro. Participaram da discussão Marcelo Cançado, diretor administrativo da Rede Drogal; Marcelo Doll, presidente do Grupo DPSP; e Renato Porto, diretor executivo de Relações Institucionais da Abrafarma.

Novo cenário

Ao serem questionados sobre o impacto da chegada da pandemia no Brasil, no início do ano, Marcelo Doll explicou que todos foram “atropelados”, e o peso social das farmácias vem sendo testado ao longo os meses.

Para Marcelo Doll, o setor foi atropelado pela pandemia, criando uma demanda muito grande para as farmácias. “A demanda extrema dos pacientes foi algo que nem mesmo nas projeções mais otimistas que fazíamos poderia acontecer. Foram literalmente cinco anos de crescimento em cinco meses. A telemedicina, a prescrição eletrônica, as pessoas presas em casa e nós tendo que responder a isso de forma impressionante. Até a entrega em domícilio foi resgatada com força. Essa jornada não tem volta, apenas teremos que reequilibrá-la”, comentou.

Marcelo Cançado concordou: “Tivemos que acelerar a tecnologia, inclusive as redes menores, mesmo que mais devagar. Não ter tanto contato com as pessoas foi bastante desafiador, mas conseguimos, mesmo distantes, estar mais próximos. O e-commerce veio para ficar, pois  vai complementar a loja física. É uma nova experiência, uma nova jornada para os clientes”.

Questão regulatória

Em um país tão grande como o Brasil, que possui uma enorme capilaridade de farmácias em todos os estados, o ambiente regulatório sempre foi um desafio. Para Renato Porto, a pandemia foi um gatilho para rever essa questão.

“A Covid-19 transformou a percepção de saúde, tanto individual quanto coletiva, e está trazendo impactos na regulação. As farmácias já fazem vacinação e testes de Covid-19, e terão cada vez mais serviços. Hoje, não dá para pensar que o SUS é exclusivamente público.É possível conectá-lo às farmácias e torná-lo mais  funcional e com menos demanda. O governo não pode ser barreira para inovação. A farmácia é a porta de entrada para um sistema unitário de saúde”, defendeu o diretor da Abrafarma.

Mudança no varejo

Com a intensificação do uso da tecnologia na compra, uma possível consequência seria o fim das lojas físicas. Mas, para Doll, isso não irá acontecer: “Particularmente não acredito que irão acabar, inclusive estamos abrindo lojas neste período. Nosso negócio vai além da transação comercial, criando vínculo com consumidores e colaboradores, ou seja, estabelece uma relação humana. Muitas pessoas, durante a pandemia, iam às lojas para reduzir a ansiedade tirando dúvidas. O papel do farmacêutico é fundamental e teve seu protagonismo elevado durante esta crise”.

O executivo da Drogal comentou que a transformação no varejo e na atenção farmacêutica já vinha acontecendo há tempos: “Não é apenas o medicamento que é vendido, e sim a saúde de forma geral, por meio da digitalização das receitas e da telemedicina. Acredito que a farmácia se tornará um hub de saúde, em que a população poderá decidir se deseja realizar um teste na loja ou no hospital. Acredito que, em breve, seremos protagonistas na vacinação da Covid-19”.

Home office

Em relação ao desafio do trabalho home office, no ápice do isolamento social, Doll revelou que, após uma semana de pandemia, todos os colaboradores já estavam trabalhando de casa, permanecendo assim por quatro meses.

“Há cerca de um mês, retornamos de forma gradual e seguindo todos os protocolos de segurança. A comunicação funcionou bem, mas a falta do contato humano em alguns momentos pode limitar a produtividade. Não vamos viver como vivíamos até fevereiro e nem como vivemos até hoje. Haverá um equilíbrio, mesmo que depois seja totalmente seguro voltar ao escritório”, disse.

Na rede Drogal, a equipe do administrativo também ficou 100% em casa e, há dois meses, retornou com esquema alternado. “O contato físico faz realmente diferença, pois, às vezes, escutamos algo nos corredores que faz repensar as atividades do dia a dia”.

Porto, diretor da Abrafarma, complementou: “Ainda não chegamos no momento permanente, pois precisamos equilibrar muitas situações. Mas tenho certeza de que já temos uma nova característica de decisão, com ações mais imediatas, tanto para o regulador quanto para o regulado. A saúde deve ser sustentável, e a capilaridade das farmácias é fundamental para auxiliar nesse cuidado de forma menos custosa”.

Veja também: Covid-19: mudanças de comportamento do consumidor e legados para o canal farma

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Raphaela Quintans

Raphaela Quintans é jornalista. Atua desenvolvendo conteúdos para o portal Revista da Farmácia e redes sociais.
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