O Abrafarma Future Trends, ocorrido na última semana, promoveu um debate sobre a nova dinâmica da cadeia de valor na área de saúde no Brasil, provocada pela pandemia de Covid-19. Participaram Eugênio de Zagottis, presidente do Conselho Diretivo da Abrafarma e vice-presidente da Raia Drogasil; Romeu Cortés Domingues, presidente do Dasa; e Rodrigo Pizzinatto, CEO da Extrafarma. No fim, houve uma pequena apresentação de Marcelo Guaranys, secretário executivo do Ministério da Economia.
Mudanças durante pandemia
Eugênio de Zagottis iniciou o debate mencionando que a pandemia deixou um legado sem volta de transformação na saúde brasileira. “Os órgãos reguladores normalizaram situações que antes eram consideradas um tabu, como a telemedicina e os testes de Covid-19 realizados em farmácias. A pandemia veio para mudar definitivamente o papel da farmácia”, disse ele.
Romeu Cortés também acredita que houve mudança no modelo de saúde neste período de pandemia: “A telemedicina vem sendo muito eficiente. Os bons médicos conseguem resolver o problema de 90% dos pacientes, fazendo com que apenas 10% deles precisem ir para uma consulta presencial”.
Rodrigo Pizzinatto concordou: “Possibilitou-se o acesso de pessoas que não podiam sair de casa, o acesso às prescrições eletrônicas e à entrega do produto em domicílio. Os dados ficaram mais disponíveis para os pacientes em qualquer lugar. Mas ainda é preciso reduzir custos e baratear a saúde no Brasil. A iniciativa privada tem papel fundamental em fomentar essa mudança e deve atuar junto com o governo para tal modernização”.
Parceria público-privada
Na visão dos três participantes do painel, não são os governos, mas as empresas privadas que devem conduzir o processo de digitalização da saúde brasileira, mas, para isso, precisam mudar a sua perspectiva e entender que é possível integrar alguns processos. Segundo Eugênio, quando a farmácia vende medicamento, o laboratório faz exames e o hospital, as internações, tudo fica fácil. O problema começa quando há convergência de atividades.
Para o VP da RD, é necessário ainda seguir a agenda regulatória: “Atualmente, poucas situações são proibidas, mas há um gap regulatório que não estava previsto e precisa ser coberto. O principal desafio é mudar a mentalidade do governo, incluindo o Congresso, e começar a parceria”.
“O setor privado tem mais agilidade e recursos, além de contato com empresas internacionais. Por que não oferecer isso ao setor público? Podemos e devemos fazer parcerias e ajudar, principalmente em um momento de pandemia, como fizemos com os milhares de testes de Covid-19 realizados nas farmácias”, acrescentou Romeu.
Ecossistema de saúde
O ecossistema de saúde, para ser eficiente, precisa que todos os elos colaborem e atuem juntos para levar saúde à população. “A palavra ecossistema já pressupõe contribuição, reconhecendo que não é possível fazer tudo ao mesmo tempo. Precisamos de diferentes players com diferentes origens, e que cada um faça a sua parte para as coisas acontecerem”, defendeu Eugênio de Zagottis.
Na pandemia, por exemplo, as farmácias assumiram a missãode realizar os testes rápidos. Muitas capacitaram-se para a função, enquanto outras fizeram parcerias com clínicas de vacinação para realizarem os testes em conjunto: “Essa união no sistema de saúde já é uma realidade. Cada um sendo especialista na sua área, mas trabalhando em conjunto”.
Mudanças na economia
No fim do painel, Marcelo Guaranys, secretário executivo do Ministério da Economia, falou um pouco sobre as estratégias do governo durante a pandemia. “Tivemos uma perda econômica muito grande nos últimos meses. Por isso, nossas medidas foram destinadas aos vulneráveis, que recebem o auxílio emergencial; à manutenção do emprego, para flexibilizar os contratos trabalhistas, manter as pessoas empregadas e complementar os salários; e ao combate à pandemia, repassando recursos ao Ministério da Saúde e flexibilizando regras fiscais”, explicou o secretário.
Agora, no período de retomada das atividades, Guaranys diz que estão calibrando o que precisa ser feito, incluindo prioridade às políticas públicas, parcerias privadas, avanços na regulação e permissão para mais concorrência e eficiência entre as empresas do setor de saúde.
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