Atualmente, o Brasil fabrica apenas 5% de todos os insumos necessários para a produção de seus medicamentos, importando a maior parte da China e da Índia, responsáveis pela fabricação de 40% dos insumos utilizados em todo o mundo.
A opção pela transferência das produções de insumos para países asiáticos foi tomada com o objetivo de reduzir os custos, não somente pelo Brasil como também por outros países desenvolvidos. Norberto Prestes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), explica que com isso a China e a Índia puderam investir massivamente em tecnologia.
Indústria brasileira e fabricação
Segundo Prestes, o ápice da produção nacional ocorreu na década de 1980, quando o País fabricava 55% de seus insumos. Contudo, houve um processo de “especialização regressiva” na década seguinte. Com a abertura comercial dos anos 1990, tornou-se mais barato importar medicamentos e insumos do que os produzir.
“Se por um lado reforçaram a capacitação técnica e financeira das empresas produtoras de medicamentos, pouco ou nada fizeram para a redução da dependência dos insumos. Isso rapidamente transformou a cadeia farmacêutica em um grande importador, tanto de IFAs quanto de medicamentos prontos”, comenta o presidente da Associação.
Pandemia gerou alerta
Mesmo que a quase total dependência de insumos já ocorra há anos, foi a pandemia da Covid-19 que chamou a atenção para o problema, alertando sobre os perigos da ruptura de fornecimento para a saúde pública.
“Somos uma das dez maiores indústrias farmacêuticas do mundo e, mesmo assim, totalmente dependentes das importações dos insumos. Claro que não deixaremos de importar, todos os países o fazem devido ao baixíssimo custo, o que não podemos aceitar mais é sermos um país sem capacidade tecnológica para reagir a um problema como esse e não entrar em colapso”, afirma o executivo.
Falta de investimentos
Entre os problemas que levaram a essa queda estão a falta de investimentos em inovação e tecnologia e ausência de isonomia regulatória e tributária. “Assistimos nesta pandemia aos governos da Europa e dos Estados Unidos destinarem dezenas de bilhões de dólares e se associarem com as empresas que estão pesquisando tanto vacinas como medicamentos, testes diagnósticos, insumos e tudo o mais que seja relevante para o combate à pandemia. Esta postura é fundamental ser tomada e o Brasil reagir rapidamente”, finaliza Prestes.
Veja também: GreenCare entra na fabricação de medicamentos à base de Cannabis