Falar de varejo no Brasil é uma tarefa bem complexa, pois, desde a chegada dos portugueses em nossa terra, vimos infinitos modelos de negócios abrirem, funcionarem e morrerem. A escravidão e a forma como os escravos chegavam ao Brasil e de que modo eram negociados já falam um pouco sobre a metodologia adotada por comerciantes e empresários.
De fato, desde a primeira botica até os tempos atuais a história brasileira do varejo farmacêutico é pródiga em modelos.
Alguns comerciantes foram para o interior do País. Em cidades de até 5 mil habitantes, vamos ver uma discrepância incrível sempre em nome do atendimento prioritário do paciente/cliente/consumidor.
Aliás, a primeira discussão refere-se a que tipo de pessoas o varejo farmacêutico atende. Serão eles pacientes/clientes ou consumidores? Se, do ponto de vista da assistência farmacêutica, eles devem ser tratados como pacientes, como negócio lucrativo e independente devem ser consumidores no primeiro momento e, se conseguimos fidelizá-los, passam a ser clientes. Como dentro dessa miscelânea de atividades podemos discutir se determinado modelo é o melhor para o País?
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O segundo ponto é saber se de fato a presença do farmacêutico é indispensável e em que modelo ele deve estar inserido. Se estiver inserido, qual o perfil adequado desse profissional para os diversos modelos existentes? E, o mais interessante, que tipo de capacitação ele deve ter nas diversas funções pelas quais é o responsável?
Dito isso, como atuar em 27 estados e 5 mil municípios, cada qual com seu regime especial de vigilância sanitária e licenciamentos vários? Como regular esse mercado onipresente, onipotente e completamente diversificado?
É verdade que esses assuntos já vêm sendo discutidos há décadas e também que ainda existem muitos gargalos a serem esclarecidos. Quem vive o varejo sabe que a pulverização do mercado em algum momento foi a melhor estratégia e que a dualidade entre grande rede e varejo independente levou à replicação de modelos híbridos que, de alguma forma, ainda não se consolidaram, apesar de que a força das grandes redes pelo domínio do mercado em termos econômicos ainda não se fez em termos geográficos.
Deixo este artigo como provocação para o aprofundamento das questões, se é que a distribuição, o operador logístico, o varejo independente e a indústria já se deram conta do que a concentração poderá fazer em todo o processo varejista farmacêutico.