A pandemia da Covid-19 trouxe um cenário desafiador para o mundo, com a constante recomendação de isolamento social para diminuir o ritmo de contágio da doença. Contudo, para pessoas que sofrem com outras doenças, como o câncer, podem surgir outros agravantes.
O oncologista e um dos fundadores da plataforma de atendimento Missão Covid, Raphael Brandão, dá mais detalhes: “Pacientes oncológicos podem fazer parte do grupo de risco do coronavírus, pois podem ter o sistema imunológico comprometido. Especialmente aqueles que estão em uso de quimioterapia e os portadores de neoplasias hematológicas (leucemias, linfomas mieloma múltiplo). Também é muito alarmante a redução dos tratamentos ou do diagnóstico do tumor, pois as pessoas têm medo de ir até as unidades de saúde”, comenta ele.
Aumento do índice de óbitos
Um estudo publicado pela University College London mostra uma provável elevação do índice de mortalidade de pessoas com câncer em pelo menos 20% devido ao surto do coronavírus. Os pesquisadores apontam que, ao observar o contexto da Inglaterra, uma parte das mortes ocorrerá por conta da infecção pelo vírus, em virtude da baixa imunidade, enquanto o restante será acometido pelo atraso do diagnóstico ou do tratamento.
O estudo analisou também dados semanais de oito hospitais e constatou que, durante a pandemia, houve uma redução de 76% nos encaminhamentos de pessoas com suspeita de câncer e de 60% nas sessões de quimioterapia, possivelmente ocasionadas pelo medo da contaminação.
No Brasil, o cenário é parecido. Estimativas das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica apontam que 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer desde o início da pandemia no País.
“Esse dado é muito preocupante, pois a detecção precoce do tumor é um dos principais fatores que conferem maiores chances de cura. Quanto mais avançada estiver a doença no momento da descoberta, mais agressivos e, muitas vezes, menos eficazes serão os tratamentos”, afirma Brandão.
Telemedicina é opção
Para reduzir o impacto da pandemia nos tratamentos de câncer que já estão em andamento, a telemedicina vem sendo uma das soluções. “As consultas online são uma maneira de manter o paciente em contato com a equipe médica sem a necessidade de sair de casa. Alguns medicamentos endovenosos que são aplicados no hospital, por exemplo, podem ser substituídos durante este período por outros orais, desde que sejam prescritos pelo médico e seu uso seja monitorado por ele, ainda que virtualmente”, esclarece o oncologista.
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