No segundo dia do Abrafarma Future Trends, a Super Sessão do evento trouxe mais profissionais renomados para discutir os impactos da pandemia de Covid-19 nos processos das farmácias, a adaptação abrupta ao universo digital e a mudança cultural que o setor precisa ter para crescer na mesma velocidade em que a tecnologia.
Panorama geral da pandemia
O responsável por abrir o segundo dia do evento foi Jarbas Barbosa, vice-diretor geral da Organização Pan-ameriana de Saúde (OPAS). Em sua participação, ele deu um panorama geral do coronavírus no mundo, fazendo um alerta para a variante delta e ressaltando a importância da vacinação e de continuar tomando os cuidados de higiene necessários.
“Entraremos em 2022 ainda convivendo com a pandemia, e essa convivência precisa ser planejada. Os dados são irrefutáveis – as vacinas são eficazes. Vacinado, você reduz muito a chance de ser internado e ir pra UTI. Mas precisa continuar se protegendo por conta da transmissão. Pessoas vacinadas transmitem mais o vírus porque possuem carga viral maior, o que levanta uma preocupação muito grande: será que vão surgir outras variantes?”, indagou Jarbas.
Tecnologia é o futuro
O convidado internacional do dia foi Bertalan Meskó, médico e diretor do The Medical Futurist Institute (no português, Instituto de Medicina Futurista), que comparou a tecnologia na saúde com a ficção científica. Segundo ele, o sistema de saúde mundial não aceita bem inovações, o que acaba impedindo mudanças positivas de acontecerem mais rapidamente.
“Pessoas envolvidas na saúde têm dificuldade de se adaptar às mudanças, o que atrasa ainda mais os avanços. Antes eram 30 anos para se adaptar à uma única mudança, hoje são milhares de inovações por dia, o que pode ser pior para algumas delas. Muito disso acontece por medo do desconhecido, da inteligência artificial, da automação de procedimentos”, explicou Bertalan.
Com a chegada da pandemia, muitos profissionais da saúde precisaram deixar esses medos de lado, como aconteceu com a telemedicina, que durante anos era discutida e não se chegava a um consenso para regulamentação e hoje é utilizada diariamente.
O médico afirmou ainda que a grande tendência para o futuro pós-pandemia é incluir os pacientes nas decisões das companhias – desde o desenvolvimento de um novo medicamento até a criação de um procedimento médico -, um processo chamado de patient design (design do paciente).
Na opinião de Bertalan, os farmacêuticos são os recursos mais subutilizados no sistema de saúde: “No futuro, espero que as farmácias estejam usando tecnologias mais avançadas, quem sabe até imprimindo medicamentos em 3D e em doses customizadas para cada paciente. A tecnologia existe, mas, para usá-la, é preciso haver uma mudança de cultura”.
Painel da Abrafarma
Após a participação do médico, ocorreu o painel de discussões, que contou com a presença de Alexandre Mattar, diretor comercial da Farmácia Indiana; Patriciana Rodrigues, presidente do Conselho de Administração das Farmácias Pague Menos; Cristiano Hyppolito, CDO & C-Level Executive do Grupo DPSP; e Sammy Birmarcker, CEO da rede d1000.
Para Patriciana, as farmácias já vêm há alguns anos tentando virar a chave do uso da tecnologia no varejo: “Desde 2016 a Abrafarma vem fazendo esse trabalho, mas com a pandemia nossos estabelecimentos ajudaram intensamente a diminuir a distância entre o primeiro diagnóstico e o tratamento da doença, seja por meio dos exames laboratoriais, dos testes rápidos e da telemedicina. Nossos farmacêuticos puderam conhecer e ajudar o paciente por meio da digitalização”.
Alexandre complementou dizendo que a farmácia fez uma viagem ao tempo e o farmacêutico voltou a ser um dos pontos centrais da saúde: “Passaram um tempo afastados do cliente, mas estão voltando a se relacionar de forma estruturada. Isso é importante para o futuro. Temos hoje 30 milhões de brasileiros com mais de 60 anos e, em breve, esse número dobrará. Como a saúde pública daria conta dessa massa? A farmácia tem toda a condição de contribuir com o sistema de saúde”.
Os executivos também ressaltaram a importância do empoderamento do farmacêutico e sua atuação na conscientização e estímulo ao tratamento, considerando-o a humanização da tecnologia. “O importante é saber o histórico do paciente, e não o enxergar apenas como um CPF”, disse Cristiano.
Um exemplo disso é a iniciativa da d100 em fechar uma parceria, ainda em andamento, com hospitais para que as lojas já tenham acesso à receita digital assim que o paciente sair da consulta com o médico. Sammy levantou outro ponto fundamental dentro da chamada saúde digital: o incentivo à equipe interna. É preciso estimulá-los e treiná-los, trazendo para o dia-a-dia a responsabilidade social e o cuidado com o outro.
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