Segundo estudos realizados pela Nielsen Holding, empresa especializada em pesquisa de consumo, 12% de toda a população brasileira utiliza medicamentos manipulados emagrecedores. O estudo mostra que o Brasil é o país que mais se utiliza desse recurso em toda a América Latina.
A plataforma 99fórmulas, que agiliza a cotação de receitas de manipulados, realizou uma pesquisa para avaliar quais são os princípios ativos mais recorrentes em prescrições médicas. O resultado mostrou que 8 dos 20 princípios ativos mais comuns têm como objetivo auxiliar na perda de peso.
Veja abaixo quais são eles:
Princípio Ativo | Categoria |
ORLISTATE | EMAGRECIMENTO |
BUPROPIONA | ANTIDEPRESSIVO |
TOPIRAMATO | EMAGRECIMENTO |
FAMOTIDINA | EMAGRECIMENTO |
CÁSCARA SAGRADA | EMAGRECIMENTO |
FLUOXETINA | ANTIDEPRESSIVO |
BIOTINA | DERMATOLÓGICO |
FUROSEMIDA | DIURÉTICOS/LAXANTES |
FASEOLAMINA | EMAGRECIMENTO |
CASSIOLAMINA | EMAGRECIMENTO |
ALOÍNA | DIURÉTICOS/LAXANTES |
ALFA BISABOLOL | DERMATOLÓGICO |
COENZIMA Q10 | SUPLEMENTO |
MOROSIL | EMAGRECIMENTO |
GARCÍNIA | EMAGRECIMENTO |
ZINCO QUELADO | SUPLEMENTO |
VITAMINA C | SUPLEMENTO |
PICOLINATO DE CROMO | SUPLEMENTO |
CICLOBENZAPRINA | RELAXANTE MUSCULAR |
UC II | DOR ARTICULAÇÃO |
Ao todo, foram analisadas mais de 3,5 mil receitas entre os meses de outubro de 2018 e fevereiro de 2019. Nesse processo, constatou-se que o público majoritário era feminino: 84%.
Ainda que a maioria dos princípios ativos que se destacaram na pesquisa de manipulados tenha o objetivo de auxiliar no emagrecimento, a Farmácia Elemento Base, por exemplo, tem outro foco. A farmacêutica proprietária Dayse José Luiz explica que a farmácia está mais voltada ao tratamento de problemas cardiológicos, ortopédicos, nutricionais e dermatológicos. “Preferimos abordar o tratamento para emagrecer com fitoterapia e suplementos nutricionais”, explica.
Assim como ela, os farmacêuticos e proprietários da Farmácia OfficiLab, Sérgio Giro e Cláudia Souza, contam que os manipulados com ativos mais vendidos na farmácia são os ortomoleculares e os medicamentos para longevidade e hipertrofia muscular. “Esperávamos que, com a liberação da comercialização de anorexígenos, fôssemos aumentar as vendas, mas isso não aconteceu”, comenta Giro.
Legislação sobre anorexígenos
O assunto vem gerando bastante discussão em âmbito legislativo. Em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou a RDC 50, que trata da proibição da comercialização, prescrição e dispensação de medicamentos contendo os anorexígenos sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol por parte das farmácias de manipulação. Tal medida foi tomada com base na experiência que essas substâncias tiveram em pacientes nos Estados Unidos, o que fez com que fossem proibidas aqui no Brasil.
Entretanto, em 2017, foi publicada a Lei 13.454, que permite a produção, a comercialização e o consumo das já citadas substâncias, sob prescrição médica no modelo B2. O problema é que a produção citada na lei federal dá margem a duas interpretações: a primeira é que a produção esteja autorizada somente à indústria, e a segunda é que farmácias de manipulação também poderiam produzir.
Segundo o advogado especialista em Legislação Farmacêutica e consultor jurídico da Ascoferj, Gustavo Semblano, o assunto é bastante controverso. “Há quem diga que a produção utilizando os anorexígenos deva ser feita apenas pela indústria. Mas, como uma lei federal tem um nível de hierarquia maior que uma RDC, é possível interpretar que a liberação se estende também à manipulação”, explica.
Ainda assim, na concepção da Anvisa, a sibutramina é o único dos anorexígenos citados com permissão para ser comercializado no Brasil. Além dele, o orlistat, o cloridrato de lorcasserina e a liraglutida também estão autorizados.
Qualidade de vida dos pacientes é prioridade
A farmacêutica Dayse reforça a importância de explicar aos pacientes que chegam às farmácias de manipulação que a soberania da decisão de quais princípios ativos serão utilizados na fórmula do medicamento é do médico que os prescreveu.
Entretanto, ela fala também sobre a necessidade de se conversar com os pacientes. “Eu já vi uma mesma pessoa chegar com três receitas passadas por três especialistas diferentes. Temos que avisá-la dos efeitos que isso pode causar”, alerta a farmacêutica.
Outro ponto levantado por ela é que, algumas vezes, os medicamentos podem não ter o efeito esperado, e que a farmácia pode ser culpada por isso. “É preciso entender que, além de utilizar o medicamento, existem outros fatores que podem interferir no resultado do tratamento. Vai depender de paciente para paciente”, finaliza.
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