A Close-up International, empresa que audita o setor farmacêutico, apresentou a performance do mercado em seu tradicional evento anual – Outlook 2021 –, realizado pela segunda vez consecutiva de forma totalmente online, nos dias 6 e 7 de outubro, devido à pandemia de Covid-19.
Aliás, os impactos da pandemia no setor farmacêutico foram um dos principais tópicos abordados tanto nas apresentações do vice-presidente da Close-up na América Latina, Paulo Paiva, quanto no painel com as associações no último dia do evento. Assim como ocorreu com todos os setores da economia brasileira, o varejo farma foi pego de surpresa com os acontecimentos, mas, ao contrário de muitos, conseguiu passar pela crise sem grandes perdas e continuar crescendo.
Abertura e fechamento de lojas
Um dos principais impacto da Covid-19, segundo a Close-up, foi a mudança no perfil da demanda, que migrou dos centros e zonas comerciais para lojas de bairro, favorecendo e muito o crescimento da farmácia independente. Passaram a ser lojas de alto potencial aquelas que estavam em regiões mais residenciais.
Em consequência disso, 1,6 mil pontos de venda migraram para a categoria de baixo potencial, enquanto 2,6 mil passaram a ser considerados de alto potencial por estarem em áreas onde o consumo cresceu durante a pandemia. No balanço geral de abertura e fechamento de lojas, cerca de 6 mil pontos de venda foram abertos entre agosto de 2019 e agosto de 2020, totalizando 91,9 mil estabelecimentos farmacêuticos no Brasil atualmente.
Preço e mix como diferenciais competitivos
Segundo a Close-up, o varejo farmacêutico brasileiro movimentou R$ 153 bilhões (preço ao consumidor) nos últimos 12 meses, com um crescimento de 4,9% em unidades e 11,6% em valores, com destaque para os genéricos, que continuam trabalhando preços agressivos. Isso mostra que o fator preço impacta em todas as categorias de produtos.
Aliado ao preço vem o sortimento. “O mix é estratégico para o sucesso da loja. Durante a pandemia, percebemos que as farmácias com altíssimo nível de performance tiveram maior índice de sortimento. Por isso, o independente precisa trabalhar o mix para melhorar a performance. O distribuidor e a indústria, por sua vez, precisam ficar atentos para uma área de oportunidade que não está sendo explorada”, comentou Paulo Paiva.
A pandemia de Covid-19 trouxe um grande impacto no sortimento, principalmente em relação aos produtos antissépticos e de proteção e às vitaminas. A Close-up apurou que, nas grandes redes, 78% das lojas apresentam um nível de sortimento alto ou altíssimo, o que significa que elas têm menos ruptura e mais potencial de venda. Quando o cliente procura um produto e não acha, aumentam as chances de ele buscar na concorrência.
As farmácias independentes são as que mais perdem com o mix inadequado: 80% delas apresentam nível de sortimento baixíssimo, com uma média de 2.200 skus por loja. Nas associativistas, esse percentual cai para 44%, mas ainda é considerado alto pela Close-up e precisa ser melhorado. “Existe uma grande relação entre sortimento e vendas: 83% da performance está relacionada ao mix, mas com pouco investimento é possível obter incremento de performance na loja”, destacou Paulo Paiva.
Consumo de vitaminas tende a recuar com fim da pandemia
O mercado de vitaminas é um exemplo. Quem não abasteceu o estoque com essa categoria perdeu vendas, porque durante a pandemia os polivitamínicos foram um grande destaque. De agosto de 2019 a agosto de 2020, o crescimento dessa categoria foi de 74%. De acordo com os dados apurados, de 2020 para 2021, o crescimento estimado é 1,1% em unidades e 18,3% em valor. No entanto, esse mercado deve ficar estável devido ao avanço da vacinação e do recuo da pandemia, podendo ter um ligeiro recuo em unidades em 2022. A projeção é que o mercado gire em torno de R$ 2,5 bilhões em vendas de vitaminas em 2022.
O mercado de consumo vem chamando a atenção do varejo farma, principalmente na categoria HPC, que hoje tem mais de 100 subgrupos. L’Oréal e P&G são atualmente os principais players do segmento de não medicamentos no canal farmácia, enquanto a melhor performance está com a Nestlé.
As grandes redes trabalham muito bem a categoria de HPC, mas também é um segmento de oportunidades para associativistas e independentes, segundo a Close-up International. As categorias de alimentos e bebidas também tiveram excelente desempenho, crescendo 16% em valor no MAT08/21.
Os produtos de uso crônico mostraram crescimento acentuado a partir de 2019 por causa da pandemia, configurando uma grande oportunidade para o mercado. “Percebemos um menor abandono do tratamento em comparação ao período anterior à pandemia diante do indicativo de que as comorbidades elevam os riscos de complicações da Covid-19”, avaliou o vice-presidente da Close-up na América Latina. Mas não se sabe se esse comportamento vai se manter após o avanço da imunização.
Mercado total e subcanais: rede, associativismo e independente
No varejo total, o crescimento em reais, de agosto de 2020 a agosto de 2021, foi de 15,7%. Importante destacar o crescimento das vendas digitais no varejo farma, que foi de 48,9% no MAT08/21.
Em relação aos subcanais, as grandes redes cresceram menos que as independentes e as associativistas no MAT08/2021: 11,8% apenas, contra um crescimento de 18,9% e 15,2% respectivamente. A principal razão ainda é a migração do consumo das zonas comerciais para as residenciais devido à pandemia.
No entanto, esse cenário tende a mudar na medida em que a vida volta ao normal com o avanço da vacinação. Muitas empresas já retomaram as atividades presenciais, aumentando o fluxo de pessoas nos centros comerciais.
Um dado interessante apresentado pela Close-up é que as grandes redes apresentam pouca participação de mercado nas pequenas cidades, enquanto as farmácias independentes e associativistas são pouco presentes nas grandes cidades. Naquelas de mais de 1 milhão de habitantes, as grandes redes representam 77% do mercado.
Farmácia como centro de serviços de saúde
Entre as principais tendências apresentadas pela Close-up está o conceito de farmácia como centro de serviços de saúde. No MAT08/21, a população gastou R$ 103,5 bilhões no varejo farmacêutico de um total de R$ 465,6 bilhões gastos com saúde privada no Brasil.
Para Paulo Paiva, esse cenário é uma oportunidade para a farmácia ampliar a oferta de serviços de acompanhamento e prevenção para fidelizar o cliente e reduzir esses gastos com saúde privada, principalmente para as grandes redes, que, em geral, já contam com toda a estrutura para serviços de saúde na loja.
Falando de futuro, a Close-up destaca oportunidades que podem transformar a farmácia num HUB de saúde, apoiando o paciente no tratamento e na prevenção. Além disso, a perspectiva é de que os clientes irão com menos frequência à farmácia e, por isso, a palavra-chave é sortimento. Ao manter um mix adequado de produtos, a loja reduz as perdas com as rupturas e garante a venda. Por fim, importante destacar o avanço do e-commerce e das vendas por delivery.
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